segunda-feira, 27 de agosto de 2018

SAFO - A GREGA POETISA DE LESBOS


A chuva de Zeus boba, do alto do céu vem a borrasca
E o frio imobiliza as águas dos regatos. 
Eia, etão! Destrói o inverno, aviva
mais e mais as chamas do fogo; 
verte em abundância o vinho
mais doce que o mel das abelhas; 
e bebe-o, tendo a fronte envolta em quentes lãs.
Não devemos entregar à dor os nossos corações, 
ou deixar-nos corroer pelos cuidados; 
pois tristezas não trazem proveito algum, amigo, 
e nada remedeiam;
nada melhor para alegrar o espírito
do que uma taça de vinho puro e forte.

                Acima da "Dodecapolis" Jônia ficavam as doze cidades do continente colonizado pelos eolianos e aqueanos, que vieram do norte da Grécia pouco depois da queda de Troia ter aberto a Ásia Menor à imigração grega. eram pela maioria cidades pequenas, de modesto papel na história; mas a ilha de Lesbos rivalizou com os centros jônios em riqueza, refinamento e gênio literário.   O solo vulcânico transformava a ilha num verdadeiro éden de pomares e vinhas. De suas cinco cidades, Mitilene foi a maior, quase tão rica pelo comércio com Mileto, Samos e Éfeso. Em, fins do sétimo século a união das classes mercantes com os cidadãos pobres derrubou a aristocracia territorial e fez do bravo e rude Pitaco ditador pelo período de dez anos, com poderes equivalentes aos do seu amigo e colega Solon, o Sábio. A aristocracia conspirou para a retomada do poder, mas Pitaco abateu-a, exilando-lhe os chefes, inclusive Alceu e Safo, a princípio de Mitilene e em seguida da própria Lesbos. 
              Alceu era um ardente rebelde que misturava política e poesia e incitava todos os poetas líricos a vibrarem os sinos da revolta. De origem aristocrática, atacou o ditador com insolência tão brilhante que mereceu a coroa da deportação. Usava duma forma poética toda pessoal, a que a posteridade denominou "alcaica"; e todas as suas estrofes, segundo se afirma possuem melodia e encanto. Durante algum tempo cantou a guerra, descrevendo o seu próprio lar como repleto de troféus mavórticos; mas quando lhe surgiu a primeira oportunidade de demonstrar heroísmo, atirou para longe o escudo, desertou, como Arquíloco, e congratulou-se liricamente pela alta prudencia demonstrada. De quando em quando canta o amor, mas o tema favorito era o vinho, tão famoso em Lesbos quanto a poesia. Nun chre methusthen, aconselha-nos ele: nunc bibamus, bebamos fartamente, para aliviar a sede; no outono, para aliviar a estação; no inverno, para aquecer o sangue; na primavera, para comemorar o ressurto da natureza. 
                 Foi sua infelicidade -embora ele a tenha suportado com despreocupada inconsciência - o ter tido entre seus contemporâneos a mais celebre de todas as mulheres da Grécia. Mesmo em sua época toda a Grécia erguia hosanas a Safo. "Uma noite, sob o calor do vinho", narra Stobeu, "Execestides, sobrinho de Solon, entoou um canto de louvor  a Safo, o qual tanto agradou ao tio que este pediu ao rapaz que lhe ensinasse; e quando algum do grupo indagou, "Para que?" Solon respondeu: "Quero aprendê-lo e depois morrer!" Sócrates, talvez aspirando graça igual, deu a Safo o título de "A bela", e Platão dedicou-lhe um extático epigrama: 
Há quem afirme serem nove Musas. Que erro!
Pois não vêem que Safo de Lesbos é a Décima?
              "Safo era maravilhosa", diz Estrabão; "pois em todos os tempos de que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético". 
               Assim como os antigos queriam significar Homero quando diziam "o Poeta", também Safo era tida por todo o mundo grego como "a Poetisa". 
               Psappha, como ela se chamava a si própria em seu doce dialeto eoliano, nasceu em Efeso, Lesbos, por volta de 612, mas sua família mudou-se para Mitilene quando ainda era criança. Em 593 encontramo-la entre os aristocratas conspiradores deportados por Pitaco para a cidade de Pirra; com dezenove anos apenas, já ela começava a tomar parte na vida pública através da política e da poesia. Não era tida como beleza: pequena de estatura e frágil de porte, seus olhos e cabelos eram mais negros do que o desejariam os gregos; mas possuía o encanto da elegância, da delicadeza e do refinamento, e um espírito brilhante, mas não a ponto de matar a ternura. "Meu coração", diz a poetisa, "e como a das crianças". Sabe-se pelos seus versos que ela foi de temperamento apaixonado, e suas palavras, diz Plutarco, "vinham misturadas com chamas"; um certo sensualismo dava corpo aos entusiasmos de seu espírito. Atis, sua discípula favorita, descreveu-a como entrajada de ouro e purpura e coroada de flores. Devia ser muito sedutora à sua maneira, pois Alceu, com ela exilado em Pirra, não tardou em enviar-lhe um convite de amor."Oh pura Safo, de violetas coroada e de suave sorriso, queria dizer-te algo, mas a vergonha me impede". A resposta da poetisa foi menos ambígua: "Se teus desejos fossem decentes e nobres e tua língua incapaz de proferir baixezas, não permitirias que a vergonha te nublasse os olhos - dirias claramente aquilo que desejasses." O poeta cantou-lhe as graças em odes e serenatas, mas não se sabe de maior intimidade entre ambos. 
                 Talvez o segundo exílio de Safo os tenha separado. Pitaco, temendo-lhe a maturidade de pena, deportou-a para a Sicília, provavelmente no ano 591, quando qualquer pessoas a julgaria ainda uma inofensiva rapariga. 
              A esse tempo casou-se Safo com um rico mercador de Andros; alguns anos depois escrevia: "Tenho uma filhinha, a querida Cleis, dourada flor que eu não trocaria por toda a Lídia nem pela formosa Lesbos." Era-lhe fácil desprezar as riquezas da Lídia depois de ter herdado toda a fortuna do esposo prematuramente falecido. Após cinco anos de exílio, voltou para Lesbos, onde se tornou a líder da sociedade e do mundo intelectual da ilha. Entrevemos reflexos de seu esplendor num dos fragmentos que se salvaram: "mas saibam que amo o conforto e que para mim o esplendor e a beleza pertencem ao desejo do sol." Safo apegou-se profundamente ao seu irmão mais novo, Caraxo, e sofreu terrível decepção quando, em uma de suas estadas comerciais no Egito, o rapaz apaixonou-se pela cortesã Dórica e, sem dar ouvidos às ameaças da irmã, desposou-a. 
               Entrementes Safo também se deixou atingir pela mesma chama. Sedenta de atividade, abrira uma escola para moças, às quais ensinava poesia, música e dança; foi essa a primeira "escola de aperfeiçoamento" da história. Safo chamava suas discípulas não de alunas, mas de hetairai - companheiras; a palavra não havia ainda tomado o sentido deprimente que mais tarde tomaria. Em sua viuvez apaixonou-se sucessivamente por todas as discípulas. "O amor," diz um dos seus fragmentos, "sacudia-me o espírito como a ventania que passa e abala os grandes carvalhos." "Amei-te, Atis, há muitos anos," narra outro fragmento, "quando minha mocidade estava ainda em flor, e tu me parecias tímida e ingênua criança."  Mas inesperadamente Atis aceitou as atenções de um rapaz de Mitilene e com desmesurado ardor Safo passou a exprimir os seus ciúmes num poema conservado por Longinus e traduzido na métrica "sáfica" por John Addington Symonds: 

Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz 
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado, 
te contemple e em silêncio te ouça a argenta voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito. 
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
Sim, basta isso, para que minha língua de paralise, 
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas. 
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos; 
O suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor
se apodera de todos os meus membros e, mais lívida 
que a outonal folhagem, estorcendo-me nas dores da agonia, 
desfaleço perda no êxtase do amor. 

                Os pais de Atis retiraram-na da escola; e uma carta atribuída a Safo dá-nos ideia do que foi a separação.

"Muito ela (Atis?) chorou ao ter de deixar-me, e 
disse: "Oh, como é triste a nossa sorte! Safo, juro que 
se te abandono, faço-o contra a minha vontade." E eu
respondi: "Vai e sê feliz, mas lembra-te de mim, pois
sabes o quão doidamente te amor. E se viveres a esquecer-me, 
oh, então hei de lembrar-te o que esqueceste -
a vida adorável e cheia de encanto que juntas vivemos. 
Pois com muitas guirlandas tecidas de violetas e perfumadas
rosas adornaste, ao meu lado, tuas esvoaçantes
madeixas; e muitas foram os colares feitos de mil flores
com que envolveste teu formoso pescoço; e quantas 
vezes em meu regaço untaste teu corpo jovem e belo, 
com óleos raros de preciosos. E não havia monte, lugar
sagrado ou regato, que juntas não visitássemos; e jamais
primavera alguma encheu os bosques de doces rumores
ou do melodioso canto dos rouxinóis, sem que nós 
estivéssemos presentes."

                 Depois disso, no mesmo manuscrito, vem um grito mais amargo. "Nunca mais hei de rever Atis e seria bem melhor para mim se tivesse morrido." Esta sem dúvida é a autêntica voz do amor, atingindo culminâncias de sinceridade e beleza para além do bem e do mal. 
                Antigos críticos travaram debates para decidir se esses poemas seriam expressões do "amor lésbico" ou simplesmente divagações poéticas e impessoais. Basta-nos, entretanto, que sejam poesia da primeira ordem, vibrante de sentimento, resplandescente de imagens e perfeita na linguagem e na forma. Um dos fragmentos fala dos "passos da primavera em flor"; outro fala do "Amor, o amolentador dos membros, o agri-doce tormento"; outro compara o amor inatingível à "deliciosa maçã que avermelha na ponta do galho e só não foi colhida por estar muito alta." Safo escreveu sobre outros tópicos alem do amor, e empregou, mesmo nos fragmentos que nos restam, meia centena de metros diferentes; ela própria musicava seus poemas para a harpa. Seus versos foram reunidos em nove volumes, contendo ao todo umas doze mil linhas; seis mil foram salvas, embora na maioria salteadas. 
                 No ano 1073 da nossa era, a poesia de Safo de Alceu foi queimada publicamente pelas autoridades eclesiásticas de Constantinopla e Roma. Depois, em 1897, Grenfell e Hunt descobriram no Oxirinco, em Faio, caixões funerários feitos de "papier-maché" para cuja fabricação haviam sido aproveitadas páginas de livros antigos; entre estas encontravam-se alguns poemas de Safo.
               A posteridade masculina vingou-se dessa extraordinária mulher divulgando, ou inventando, a história da sua morte em consequência de um amor não correspondido. um trecho de Suidas narra como "a cortesã Safo" - perfeitamente identificada com a poetisa - suicidou-se lançando-se do alto de um penhasco na ilha de Leucas, porque Faon, o marujo, não lhe correspondia amor. Menandro, Estrabão e outros referem o fato, e Ovídio repete-o com amorosos detalhes; mas há nessa narrativa todos os característicos da lenda, e deve ser deixada nebulosamente flutuante entre a ficção e a verdade. Em sua velhice, diz a tradição, Safo aprendera o amor dos homens. Subsiste a sua comovente replica a uma proposta de casamento: "Se meus seios ainda fossem capazes de amamentar e meu ventre pudesse gerar filhos, então, sim,para um outro leito nupcial eu me encaminharia sem que meus pés tremessem, mas os anos marcaram-me de rugas a pele, e o Amor não se apressa em ofertar-me a sua dadiva de dor" - e ela aconselha o pretendente a procurar esposa mais jovem. Ma verdade ignoramos quando Safo morreu, ou de que maneira; sabemos apenas que deixou vívida ima lembrança de ardor, poesia e graça; e que resplandeceu acima do próprio Alceu como a mais melodiosa voz do seu tempo. Delicadamente, num último fragmento, ela reprova os que não queriam admitir que seus cantos tinham cessado: 

Desonrais as Musas, meus filhos, quando dizeis,
"Havemos de coroar-te, querida Safo, como o 
melhor dos poetas, pois ninguém como tu, e com 
tanta clareza, jamais soube vibrar a melodiosa lira."
Não vedes que tenho a pele enrugada pelos anos, 
e que meus cabelos, de negros que eram, estão 
hoje brancos?... Sem duvida, assim como a Noite 
estrelada segue a Aurora de róseos braços, 
espalhando suas trevas até os confins da terra, 
assim a Morte persegue todas as coisas vivas
 e no fimas apanha. 
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terça-feira, 24 de julho de 2018

POETISA SAFO - DA ILHA DE LESBOS - Nicéas Romeo Zanchett




Safo foi a maior poetisa de todos os tempos.

                Acima da Decápolis Jônia ficavam as doze cidades do continente colonizado pelos eolianos e aqueanos, que vieram do norte da Grécia pouco depois da queda de Troia ter aberto a Ásia Menor à imigração grega. Eram pela maioria cidades pequenas, de modesto papel na história; mas a ilha de Lesbos rivalizou com os centros jônios em riqueza, refinamento e gênio literário. O solo vulcânico transformava a ilha num verdadeiro éden de pomares e vinhas. De suas cinco cidades, Mitilene foi a maior, quase tão rica pelo comércio como Mileto, Samos e Éfeso. Em fins do sétimo seculo a união das classes mercantes com os cidadãos pobres derrubou a aristocracia e fez do bravo e rude Pitaco ditador pelo período de dez anos, com poderes equivalentes aos do seu amigo e colega Solon, o sábio. A aristocracia conspirou para a retomada do poder, mas Pitaco abateu-a, exilando-lhes os chefes, inclusive Alceu e Safo, a princípio de Mitilene e em seguida da própria Lesbos. 
                 Alceu era um ardente rebelde que misturava política e poesia e incitava os poetas líricos a vibrarem os sinos da revolta. De origem aristocrática, atacou o ditador com insolência tão brilhante que mereceu a coroa da deportação.  Usava duma forma poética toda pessoal, a que a posteridade denominou "alcaica"; e todas as suas estrofes, segundo se afirma, possuíam melodia e encanto. Durante algum tempo cantou a guerra, descrevendo o seu próprio lar como repleto de troféus mavórticos; mas quando lhe surgiu a primeira oportunidade de demonstrar heroísmo, atirou para longe o escudo, desertou, como Arquíloco, e congratulou-se liricamente pela alta prudência demonstrada. De quando em quando cantava o amor, mas o tema favorito era o vinho; tão famoso em Lesbos quanto a poesia. Nun chre methusthen, aconselha-nos ele: nunc bibamus, bebamos fartamente; no verão, para avivar a sede; no outono, para avivar a estação; no inverno, para aquecer o sangue; na primavera, para comemorar o ressurto da natureza. 

"A chuva de Zeus tomba, do alto do céu vem a borrasca
e o frio imobiliza as águas dos regatos. 
Eia, então! Destrói o inverno, aviva mais e mais as chamas do fogo;
verte com abundância o vinho mais doce que o mel das abelhas; 
e bebe-o, tendo a fronte envolvida em quentes lãs; 
Não devemos entregar à dor os nossos corações, 
ou deixar-nos corroer pelos cuidados; 
pois tristezas não trazem proveito algum, amigo, e nada remedeiam; 
nada melhor para alegrar o espírito
do que uma taça de vinho puro e forte. 

                Foi sua infelicidade - embora ele a tenha suportado com despreocupada inconsciência - o ter tido entre seus contemporâneos a mais célebre de todas as mulheres da Grécia. Mesmo em sua época, toda a Grécia erguia hosanas a Safo. "Uma noite, sob o calor do vinho", narra Stobeu, "Excestides, sobrinho de Solon, entoou um canto de louvor a safo, o qual tanto agradou ao tio que este pediu ao rapaz que lho ensinasse; e quando alguém do grupo indagou, "Para que?" Solon respondeu: "Quero aprendê-lo e depois morrer!"  Sócrates, talvez aspirando graça igual, deu a Safo o título de "A Bela", e Platão dedicou-lhe um extático epigrama: 

"Há quem afirme serem nove as Musas. Que erro! 
Pois não vêem que safo de Lesbos é a Décima?"

        "Safo era maravilhosa", diz Estrabão; pois em todos os tempos de que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em Matéria de talento poético". Assim como os antigos queriam significar Homero quando diziam "o Poeta", também Safo era tida por todo o mundo grego como "a Poetisa."
                 Psappha, como ela se chamava a si própria em seu doce dialeto eoliano, nasceu em Freso, Lesbos, por volta de 612 a.C., mas sua família mudou-se para Mitilene quando ainda era criança. Em 593 a.C encontramo-la entre os aristocratas conspiradores deportados por Pitaco para a cidade de Pirra; com dezenove anos já ela começava a tomar parte na vida pública através da política e da poesia. Não era tida como beleza; pequena de estatura e frágil de porte, seus olhos e cabelos eram mais negros do que o desejariam os gregos; mas possuía o encanto da elegância, da delicadeza e do refinamento, e um espírito brilhante, mas não a ponto de matar a ternura. "Meu coração," diz a poetisa, "é como o das crianças." Sabe-se pelos seus versos que ela foi de temperamento apaixonado, e suas palavras, diz Plutarco, "vinham misturadas com chamas"; um certo sensualismo dava corpo aos entusiasmos de seu espírito. Atis, sua disputa favorita, descreveu-a como entrajada de ouro e púrpura e coroada  de flores. Devia ser muito sedutora à sua maneira, pois Alceu, com ela exilado em Pira, não tardou em enviar-lhe um convite de amor. "Oh pura Safo, de violetas coroada e de suave sorriso, queria dizer-lhe algo, mas a vergonha me impede." A resposta da poetisa foi menos ambígua: "Se teus desejos fossem decentes e nobres e tua língua incapaz de proferir baixezas, não permitirias que a vergonha te nublasse os olhos - dirias claramente aquilo que desejasses. O poeta cantou-lhe as graças em odes e serenatas, mas não se sabe de maior intimidade entre ambos. 
                   Talvez o segundo exílio de Safo os tenha separado. Pitaco, temendo-lhe a maturidade da pena, deportou-a para a Sicília, provavelmente no ano 591, quando qualquer pessoa a julgaria ainda uma inofensiva rapariga. 
                 A esse tempo casou-se Safo com um rico mercador de Andros; alguns anos depois escrevia: "Tenho uma filhinha, a querida Cleis, dourada flor que eu não trocaria por toda a  Lídia nem pela formosa Lesbos. Era-lhe fácil desprezar as riquezas da Lídia depois de ter herdado toda a fortuna do esposo prematuramente falecido. Após cinco anos de exílio, voltou para Lesbos, onde se tornou a líder da sociedade e do mundo intelectual da ilha. Entrevemos reflexos de seu esplendor num dos fragmentos que se salvaram: "Mas sabiam que amo o conforto e que para mim o esplendor e a beleza pertencem ao desejo do sol." Safo apegou-se profundamente ao seu irmão mais novo, Caraxo, e sofreu terrível decepção quando, em uma de suas estadas comerciais no Egito, o rapaz apaixonou-se pela cortesã Dórica e, sem dar ouvidos às ameaças da irmã, desposou-a. 
                 Entrementes Safo também se deixou atingir pela mesma chama. Sedenta de atividade, abrira uma escola para moças, às quais ensinava poesia, música e dança; foi essa a primeira "escola de aperfeiçoamento" da história. Safo chamava suas discípulas não de alumas, mas de hetairai - companheiras; a palavra não havia ainda tomado o sentido deprimente que mais tarde tomaria. Em sua viuvez apaixonou-se sucessivamente por todas as discípulas. "O amor," diz um dos seus fragmentos, sacudiu-me o espírito como a ventania que passa e abala os grandes carvalhos." "Amei-te, Átis, há muitos anos", narra outro fragmento, "quando minha mocidade estava ainda em flor, e tu me parecias tímida e ingênua criança." Mas inesperadamente Átis aceitou as atenções de um rapaz de Mitilene e com desmesurado ardor Safo passou a exprimir os seus ciúmes num poema conservado por Longinus e traduzido na métrica "sáfica" por John Addngton Symonds: 

"Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado, 
te contemple e em silêncio te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso só - é bastante
 para ferir-me o perturbado coração,  fazendo-o tremer
dentro do meu peito! 
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça; 
Sim, basta isso, para que minha língua se paralise, 
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas. 
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas 
soa-me aos ouvidos; 
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor
se apodera de todos os meus membros e, mais lívida 
que a outonal folhagem, estorcendo-me nas dores da agonia, 
desfaleço perdida no êxtase do amor. 

                 (Swinburne deu-nos o melhor exemplo desse metro, e descreve-nos o amor de Safo num poema de profunda beleza, de nome "Sáficas", em seu livro Poemas e baladas.) 

                 Os pais de Átis retiram-na da escola; e uma carta atribuída a safo dá-nos ideia do que foi a separação.

               "Muito ela (Átis?) chorou a ter de deixar-me, e disse: "Oh, como é triste a nossa sorte! Safo, juro que se te abandono, faço-o contra minha vontade." E eu respondi: "Vai e sê feliz, mas lembra-te de mim, pois sabes o quão doidamente te amo. E se vires a esquecer-me, oh, então hei de lembrar-te o que esqueceste - a vida adorável e cheia de encanto que juntas vivemos. Pois com muitas guirlandas tecidas de violetas e perfumadas rosas adornaste, ao meu lado, tuas esvoaçantes madeixas; e muitos foram os colares feitos de mil flores com que envolveste teu formoso pescoço; e quantas vezes em meu regaço untaste teu corpo jovem e belo, com óleos raros e preciosos. E não havia monte, lugar sagrado ou regato, que juntas não visitássemos; e jamais primavera alguma encheu os bosques de doces rumores ou do melodioso canto dos rouxinóis, sem que nós estivéssemos presentes."

                Depois disso, no mesmo manuscrito, vem um grito mais amargo. "Nunca mais hei de rever Átis e seria bem melhor para mim se tivesse morrido." Esta é sem dúvida a autêntica voz do amor, atingindo culminâncias de sinceridade e beleza além do mal. 
                Antigos críticos travaram debates para decidir se esses poemas seriam expressões do "amor lésbico" ou simplesmente divagações poéticas e impessoais. Basta-nos, entretanto, que sejam poesia de primeira ordem, vibrante de sentimento, resplandescente de imagens e perfeita na linguagem e na forma. Um dos fragmentos fala dos "passos da primavera em flor"; outro fala do "Amor, o amolentador dos membros, o agri-doce tormento"; outro compara o amor inatingível à "deliciosa maçã que avermelha na ponta do galho e só não foi colhida por estar muito alta."  Safo escreveu sobre outros tópicos do amor, e empregou, mesmo nos fragmentos que nos restam, meia centena de metros diferentes; ela própria musicava seus poemas para harpa. Seus versos foram reunidos em nove volumes, contendo ao todo umas doze mil linhas; seis mil foram salvas, embora na maioria salteadas.  No ano de 1073 da nossa era a poesia de Safo e de Alceu foi queimada publicamente pelas autoridades eclesiásticas de Constantinopla e Roma. ( terrorismo da igreja sempre estava presente nessas atitudes inconsequentes). Depois em 1897, Grenfell e Hunt descobriram no Oxirinco, em Faio, caixões funerários feitos de "papier-maché" para cuja fabricação haviam sido aproveitadas páginas de livros antigos; entre estas encontravam-se alguns poemas de Safo.
                 A posteridade masculina vingou-se dessa extraordinária mulher divulgando, ou inventando, a história da sua morte em consequência de um amor não correspondido. Um trecho de Suidas narra como "a cortesã Safo" - perfeitamente identificada com a poetisa - suicidou-se lançando-se do alto de um penhasco na ilha de Leucas, porque Faon, o marujo, não lhe correspondia ao amor. Menandro, Estrabão e outros referem o fato, e Ovídio repete-o com amorosos detalhes; mas há nessa narrativa todos os característicos da lenda, e deve ser deixada nebulosamente flutuante entre a ficção e a verdade. Em sua velhice, diz a tradição, Safo aprendera o amor dos homens. Subsiste a sua comovente réplica a uma proposta de casamento. "Se meus seios ainda fossem capazes de amamentar e meu ventre pudesse gerar filhos, então, sim, para um outro leito nupcial eu me encaminharia sem que meus pés tremessem, mas os anos marcaram-me de rugas a pele, e o Amor não se apressa em ofertar-me a sua dádiva de dor" - e ela aconselha o pretendente a procurar esposa mais jovem. Na verdade ignoramos quando Safo morreu, ou de que maneira; sabemos apenas que deixou após si uma vívida lembrança de ardor, poesia e graça; e que resplandeceu acima do próprio Alceu como a mais melodiosa voz do seu tempo. Delicadamente, num último fragmento, ela reprova os que não queriam admitir que seus cantos tinham cessado: 

                "Desonrais as Musas, meus filhos, quando dizeis "Havemos de coroar-te, querida Safo, como o melhor dos poetas, pois ninguém como tu, e com tanta clareza, jamais soube vibrar a melodiosa lira." 
Não vedes que tenho a pele enrugada pelos anos, e que meus cabelos, de negros que eram, estão hoje brancos?... Sem dúvida, assim como anoite estrelada segue a Aurora de róseos braços, espalhando suas trevas até os confins da terra, assim a Morte persegue todas as coisas vivas e no fim as apanha."


                 

quinta-feira, 8 de junho de 2017

SAFO - A RAINHA DE LESBOS

           

              Lesbos era a ilha das paixões e o centro da cultura eólia da raça grega. A energia que os jônicos consumiam pelo prazer, pela política, pelo comércio, pela ciência, pela legislação e pelas artes eram restringidas à esfera de emoções individuais. Em nenhuma época da história grega, tomaram o amor à beleza física, à sensualidade ante a natureza radiante, o fervor consumado do sentimento pessoal, tão grande proporções e receberam tão ilustre expressão com em Lesbos.
              Foi ali que desabrochou a mais bela poetisa lírica de que o mundo teve conhecimento. Nasceu por volta de 612 antes de Cristo em Freso, na ilha de Lesbos. Assim a definiram os sábios Platão que a chamou de "a décima musa" e Sócrates de "abela". 
              A voluptuosidade da poesia eólia não é como a da ate persa ou árabe; é grega nas suas proporções, no seu tato e no seu domínio de si. 
             Nas poesias de Safo está tudo tão ritmicamente em ordem pela arte da serenidade, da grandeza, da expressão, do abandono e da paixão.
             Safo, que se chamava Psafa no seu dialeto eólio, foi a única poetisa do mundo grego antigo. Ela viveu antes do nascimento de Gautama, fundador do Budismo. Sua poesia foi forte suficiente para resistir a mais de vinte e cinco séculos. Sua importância ultrapassava fronteiras. A sobrevivência da sua obra deve-se às citações de gramáticos e de lexicógrafos, sem os quais nenhuma palavra teria chegado aos nossos dias. Apesar do tempo e das dificuldades gráficas, suas obras se conservaram intactas até, pelo menos, o terceiro século da nossa era. 
             Embora não pareca existir evidência afirmativa, consta que as obras de Safo e de outros poetas líricos foram queimadas em Constantinopla e em Roma no ano 1073, no papado de Gregório VII. Já cardano dissera que esta queima foi sobre o regime de Gregório Nazianzeno, cerca do ano 380 de nossa era. Pedro Alcídio diz ter ouvido, quando muito novo  que muitas obras de poetas gregos foram queimadas por ordem dos imperadores bizantinos e em seu lugar foram circulados os poemas de Gregório Nazianzeno. O Bispo Bloenfield declarou que devem ter sido destruídas bem cedo, porque nem Alceo e nem Safo foram anotados por qualquer dos gramáticos ulteriores. Não há sombra de dúvidas que sua obra era grandiosa. Poucos foram os preciosos versos que escaparam à destruição promovida pelo anti-paganismo. 
             Mas quem foi esta misteriosa poetisa Safo? Sou nome é encontrado em todo o lugar, mas o mistério permanece. Que existiu, não há dúvidas, mas quais terão sido as sublimes artes que usou com as mulheres? Era tão mulher ao ponto de suas seguidoras serem chamadas de sáficas. Não tinha medo do homem, fosse ele de pequeno ou grande cérebro, a ponto de dizer "eu amo as mulheres e elas me amam".Safo excitou e foi banida pelos seus contemporâneos porque adorou e depravou centenas de garotas. Seu fim foi dramático como ela própria: suicidou-se, aos 55 anos, quando percebeu que o homem que amava não a queria e ainda a  insultava. Uma grande poetisa, talvez a maior de todos os tempos. Possuidora de um caráter mórbido e melodramático, de personalidade inquieta, sonhadora e erótica. 
              As jovens de hoje, que possuem os mesmos gostos apaixonados, comentam a sua história por ter ouvido falar. 
              As verdadeiras herdeira de Safo são as intelectuais que conhecem o essencial de sua vida e seu modo de amar. O orgasmo sáfico é muito mais cerebral; é uma apaixonante dedicação física a outra mulher, seja ela ativa ou passiva. 
              Dos doze mil versos, sete mil enlouquecidos e cheios de líbidos, belíssimos - em sua grande parte foram queimados pelas Cruzadas. 
              De todas as maravilhosas poesias  que dedicou às suas amantes, somente a última chegou completa até nós. 
ODE AO AMOR
ou
ODE A VÊNUS - Por Safo. 
Filha de Jové, que tens altares
Em cem lugares, Diva Falaz: 
Ah! poupa magoas a que te adora
A quem implora favor e paz. 
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Tu já outrora piedosa ouviste
O brado triste da minha voz.
E da paterna mansão celeste
a Mim vieste pronta e veloz.
Ao níveo carro jungido tinhas
Das avezinhas o meigo par, 
Ela voando pelo ar sereno 
Em prado ameno veio pousar. 
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E tu, sorrindo, de mim diante 
Meigo o semblante falaste assim: 
"Safo, eu te vejo tão consternada, 
Por que magoada chamas por mim? 
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"Paixão te oprime? Gemes, suspiras 
Dize, a que aspiram com tanto ardor? 
Alguém, ingrato, se te não rende? 
Ah! que te ofende com tal rigor? 
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"Há de rogar-te, se te ora enjeita
Teus dons rejeita? Dons te dará; 
Desquer-te amado? Por ti já esquiva
Em chama ativa se abrasará". 
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Também agora, deusa benigna
A mim te digna dar proteção;
Auxiliadora neste conflito
Vale ao aflito meu coração. 
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                Safo era um verdadeiro homem, genitalmente mulher, com virilidade pelo frágil sexo. Sua infância foi em Mitilene, onde vivia com três irmãos, invejando-os por seus atributos sexuais masculinos que eram seu sonho maior.  Dizem que era bem feminina, possuidora de um belíssimo corpo, estátua baixa, pela escura e peluda. Assim descreveu sobre si mesma: " A natureza não foi madrinha, me recusou o esplendor do rosto, compensarei com minha genialidade satânica e com noites atrozes, onde os cegos enxergarão com a potência dos meus sentidos..."
               Politicamente teve implicações na conspiração dos nobres contra o governo democrático, foi exilada por infâmia. Mudou-se para Siracusa, casando-se com um ricaço, permanecendo pura e intocada pelo membro masculino, como fez questão de acentuar:
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 "E virgem permanecerei sempre, mas se algum dia acontecer de encontrar uma menina... na ocasião a possuirei com ardor e também em mim mesma usarei um objeto com ponta e bem afiado..."
               Suas queridinha amantes não lhe deram exclusivamente prazer orgásmico. Conta-se que uma jovem loura provocou a ira de Safo causando-lhe ciumes e foi esganada. Uma outra loura, sua amante, entregou-se a um militar e, desta vez a poetisa desabou com sua pena: 
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"Attide, não lembras do luar banhando teu despido corpo? E minha língua rósea que levemente escorregava no teu escuro orifício? De ti me persiste a memória e em ti não existe lembrança! Lembrarás dos meus braços que tantas e tantas vezes te transportaram ao êxtase?"
                A infiel loura apaixonou-se pelo militar grega, arrancando lágrimas de Safo: 
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"O amor, quem é o homem que senta à tua frente? 
Ah! me sinto enlevada pelo macho que está ao teu lado porque já me falta a voz, e sinto a língua partida.
Debaixo da pele,  um fogo implacável circula.
Os meus olhos não enxergam mais...
Te desejo, ainda te quero, te arrancarei dele...
O suor me inunda, os meus braços de macho te sacodem e te apertam.
Oh, seu eu tivesse músculos para desmembrar-te para sempre! 
Devo resignar-me por não possuir aquelas três coisas do macho?
Nunca! Voltarás para mim e "ali" te abrirei, 
Enlouquecerás e esquecerás".
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             Safo jamais se cansava de repetir suas preferências.
"Amo a vida elegante e mulheres louras, claras como a lua,
refinadas e esquivas.
A beleza de minha amante é para mim como a luz do sol".
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              Na necrópole heleno - egípcia de Ossirinco, foram descobertos alguns sonetos lésbicos, em louvor à mulher, gravados em sarcófagos. 
.
"Permaneces imóvel e do lado de lá conheces. 
Eu sinto nos meus braços mudos os tormento do verão nas primeiras chuvas, 
O medo do teu frio seio e da tua flor no alto.
Meu rosto reclamará de ti suor e lágrimas. 
Mas, pobre de mim, serei como meus dedos, vazios, áridos. 
Chama, ó amada, a vida repetida, de que quem por ti a paixão prosta..."
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OUTRAS BELÍSSIMAS OBRAS
"Oh, tu imortal beleza, tecedora de enganos, 
peço-lhe não demonstrar com penas e ânsias de amor o meu corpo e o meu coração!
Te adoro! 
Te quero para mim e para sempre.
Aqui vieste, voltaste. 
De longe ouviste minha voz e deixaste pai e mãe para seguir-me no leito dourado...
Te conduziram pássaros leves e elegantes sobre a terra escura dos meus braços fortes. 
Rapidamente vieste. Gritaste.
E tu maravilha, sorrindo em teu rosto mortal me perguntaste de que penas sofrias e o que ainda suplicava...
No meu peito em delírio, sobre meu seio inexistente o que, diga-me, suplicavas?
Tu? Oh, mas se foges agora, cedo te perseguirei. 
Se recusares presentes, muito cedo presentes te darei. 
Se não me amas, cedo me amarás, mesmo contra a tua vontade. 
Venha a mim agora!
Quanto clamor se compraz o teu corpo, 
e sobre o meu o teu grande prazer, finalmente se cumpra! 
És minha! 
Tu própria, no espasmo final que me dás tua beleza e me assistes..."
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O sangue flutua rápido em minhas veias; um acre calor invade minhas fibras.
Ruborizo-me. 
Baixa a voz ao responder um gentil pensamento, inutilmente procuro e não acho. 
Com tumulto e força bate o sangue no meu peito.
Morre a voz, enquanto eu passo minha língua em sua boca".
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Guardo a chama dentro do meu sangue e fervo, 
um estúpido e continuado tintilar, me enche os ouvidos, e sonho. 
Levando o olhar, e entrevejo sombra de macho. 
Me encontro apagada, um suor gelado, 
a fisionomia morta como erva que não cresce, 
tremendo em arrepios, 
enquanto minha língua ativa se dirige em tua direção. 
Anseio a ti cada vez mais, quase até a morte certa apagar este fogo". 
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"Virgindade, virgindade me deixas, onde vais? 
Não voltarei mais para ti, cunca mais.
Tu és a flor purpúrea, que meus braço rudes, 
pisam no abraço e aqui deitam, enquanto lá fora
a brilhante aurora de beijos, carícias, humores
e morte, venham para mim, porque tanto te desejei..."
.
.
Uiva o vento entre as árvores. 
O meu não parece um rumor, 
mas é o amor que corre, 
a paixão devoradora pelos teus lindos cabelos e teus membros alvos,
me esgota e me quebra.
Assim só, te desejo, eu morro!"
.
.
Alegria de viver mais não tenho. 
A vontade de morrer se apossa de mim, 
ver o lótus, molhado de orvalho às margens do Acheronte..."
.
.
"Oh, fêmea, que meu hálito não sentir e não provar, 
ir aqui e ali entre obscuros mortos que esvoaçam sobre sua traição. 
Oh ! amor, 
que pudesse eu com meus braços sufocar-te. 
e aquela vida de erros em segundo apagar..."
.
.
"É como a maçã vermelha em seu ramo mais alto, 
 os colhedores a esquecem. 
Não a esqueceu quem era como ela, 
mas também não conseguiu alcançá-la".
.
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PUDOR 
Por Safo 
A teus dotes qual mais encantador
tu ajuntas, amável criatura, 
um para mim de todos os maior, 
e que até embeleza a formosura: 
O pudor!



                 

domingo, 4 de janeiro de 2015

SAFO E SUAS GAROTINHAS



               Existe grande curiosidade sobre a vida da poetisa Safo. O que se sabe é que nasceu na ilha de Lesbos por volta do ano 612 a.Cristo, num lugar chamado Freso; Com apenas 55 anos, morreu tragicamente. 
               Platão a definiu como  a décima Musa; Sócrates a chamou de " a bela"; Sólon, que também era homossexual, aconselhou que fossem recolhidos em livros os seus versos eróticos  e as dedicações de amor às Eteras, prostitutas de categoria. Costumava acordar essas mulheres (prostitutas) nas horas mais estranhas para levá-las à sua cama. 
                Calcula-se que tenha produzido cerca de 12 mil versos belíssimos, enlouquecidos e cheios  de libido. A maior parte de sua produção foi queimada pela primeira Cruzada cristã. Na necrópole  heleno - egípcia de Ossirinco, foram encontrados alguns sonetos lésbicos, sempre em louvor da mulher,  gravados em sarcófagos. 
                Não se pode mais negar que ela foi a primeira mulher capaz de anunciar tanto ao homem de pequena mentalidade quanto ao mais inteligente: " Eu amo as mulheres e elas me amam". 
                A maior poetisa de todos os tempos era possuidora de um caráter mórbido e melodramático, com personalidade inquieta, entre o sonho e o erotismo, cuja verdadeira natureza tinha como base a perversão, mas continua sendo um grande mistério.
                Safo exitou, adorou e depravou centenas de garotas, tendo sido banida por seus contemporâneos cujas mentes eram retrógradas. 
                Uma das suas maravilhas poéticas, dedicadas às suas amantes, que chegou até nós completa foi a última, cujo título é "Ode  ao amor" que está no seu primeiro livro.
                As mulheres de nossos dias que possuem os mesmos gostos na paixão pelas suas iguais, pouco sabem a seu respeito; comentam por terem ouvido falar. As verdadeiras herdeiras de Safo são as intelectuais que sabem o essencial  e em seu nome revivem entre elas o mesmo sentimento de amor. 
                O orgasmo sáfico é muito mais que cerebral; é muito intenso e chega se transformar em fúria de apaixonante e dedicação física a outra mulher, seja passiva ou ativa. 
                É bem verdade que Safo tinha fortes inclinações viris em relação ao "sexo frágil"; muitos chegam a compará-la com um verdadeiro homem, afirmação com a qual não concordo. Na verdade Safo era uma ser perfeito, insaciável e tão mulher que todas sucumbiam aos seus encantos. Teve uma adolescência  difícil em Mitilene juntos dos três irmãos; foi marcada na infância por sua inveja dos atributos genitais de seus irmãos; mas a história é obscura em descrevê-la. O que sabemos é que era graciosa e possuidora de um belíssimo corpo; dizem que era baixinha e tinha pela escura com muitos pelos, que indicam uma forte predominância de hormônios masculinos. Seus irmãos a invejavam pela facilidade com que seduzia suas amiguinhas. Também sua mãe a invejava, principalmente por sua habilidade no manejo do arco e flecha durante as caçadas que fazia. Ela, no entanto, queria ser mais masculina; numa de suas poéticas inspirações diz: "A natureza não foi madrinha, me recusou o esplendor do rosto, compensarei com minha genialidade satânica e com noites atrozes, onde os cegos enxergarão com a potência dos meus sentidos..."
                 Num ponto todos concordam; tinha um fascínio encantador e com seu olhar aveludado seduzia meninas impúberes e mulheres maduras, que caíam em voluptuosidade entre seus braços másculos e talvez peludos. Apesar disso, Safo encantava alguns homens, que naturalmente eram repudiados. Do ponto de visto psicológico poder-se-ia dizer que tratava-se de uma curiosidade ou fantasia masculina, mas, em prazeres sexuais e sedução, tudo é possível. 
                O grande Horácio, filósofo e poeta satírico romano, era um entusiasta e assim se manifestou sobre a poetisa: " A masculina com cérebro dos filósofos atenienses e mais testículos que uma falange de guerreiros espartanos". 
                 Em relação á política, como todo o bom pensador, Safo teve implicações na conspiração dos nobres contra o governo democrático e acabou sendo exilada por infâmia. Sem escolha, mudou-se para Siracusa, casando-se com um ricaço, mas mesmo assim dizia continuar virgem, pura e intocada pelo membro masculino. Da virilidade de seu possível marido pouco o nada se sabe; em seus versos à respeito ela diz: "E virgem permanecerei sempre, mas se algum dia acontecer de encontrar uma menina... Na ocasião a possuirei com ardor e também em mim mesma usarei um objeto com ponta e afiado..."
                 Em seus versos encontramos despeito e ira pela rejeição que lhe fez uma jovem loira, causando-lhe ciúmes e chegando mesmo a esganá-la.  Uma outra jovem loira etérea traiu-a entregando-se aos prazeres com um militar; seu ciúme e despeito ficou registrado em alguns versos: " Attide, não lembras o luar banhando teu despido corpo? E minha língua rósea que levemente escorregava no teu escuro orifício?  De ti me persiste a memória e em ti não existe lembrança! Lembrai dos meus braços que tantas vezes te transportaram ao êxtase?"
 "Ó Amor, quem é o homem que senta à tua frente? 
Ah, me sinto enlevada pela macho que está 
a teu lado porque já me falta a vós, e sinto a
língua partida. Debaixo da pele, um fogo  implacável circula. 
Os meus olhos não enxergam mais... Te desejo,
ainda te quero, te arrancarei dele... O suor me 
inunda, os meus braços de macho te sacodem e te 
apertam. Oh, se eu tivesse músculos para desmembrar-te
para sempre! Devo resignar-me por não possuir 
aquelas três coisas do macho? Nunca! Voltarás para mim
e "ali" te abrirei, enlouquecerás e esquecerás".
                Mas a infiel loira Attide parecia adorar o membro viril do tal militar  grego e respondeu com desprezo e cinismo, provocando lágrimas sentidas e acusações diversas. 
"Permaneces imóvel e do lado de lá nada conheces. 
Eu, sinto nos meus braços mudos o tormento do 
verão nas primeiras chuvas, o medo do teu frio seio e 
da tua flor no alto. Meu rosto reclamará de ti suor e lágrimas. 
Mas, pobre de mim, serei como meus dedos, vazios, áridos.
Chama, ó amada, a vida repetida, de quem por Ti
a paixão prosta..."
                    Pelas suas expressões poéticas conclui-se que suas queridinhas amigas não lhe deram exclusivamente profundos orgasmos e prazeres estéticos; muitas vezes traída pelas que ela chamava de mulherzinhas ( por puro sadismo e propositalmente diante de seus olhos)  faziam sexo com marinheiros e nobres. Nesses momentos Safo afiava sua pena e descrevia versos de contestação:
"Quem é aquela mulher que não espalha nem odor de óleos perfumados, 
depois que minha língua doou-lhe um extremo gozo, 
que escorrega como saliva na cavidade bucal? 
Quem é este pobre ser que de mim não se excita? 
O que acredita possuir com dois pedaços de macho incapaz?"

quarta-feira, 15 de maio de 2013

AS ZONAS ERÓGENAS DA MULHER




                   Os órgãos sexuais, os seios e a boca são as zonas erógenas primárias. Mas como a excitação do homem costuma ocorrer de forma mais rápida que na mulher, principalmente na fase das carícias sexuais, é mais gratificante para ambos começarem com carícias lentas pelo corpo inteiro. Depois delas a mulher fica mais receptiva a ter seu clitóris e seus seios estimulados. 
                   A base da espinha e o começo das nádegas constitui uma das regiões mais sensíveis. Pressionada ou esfregada com as pontas dos dedos, irradia tremores de excitação pelo corpo inteiro, tanto na mulher como no homem. Essa carícia pode ser feita em qualquer momento do ato sexual. 
                   A linha diagonal que vai do topo da coxa até a barriga é muito sensível ao toque por estar muito perto das zonas erógenas primárias. Os lóbulos das orelhas e a nuca também tem uma sensibilidade especial. 
                  Apertões nos tornozelos, beijos e mordidas leves por trás dos joelhos e na parte interna das coxas provocam sensações agradáveis. Pode-se também fazer uma pressão firme perto dos órgãos sexuais. 
                  A boca, como região erógena, só perde para os órgãos sexuais, com a vantagem de possuir uma mobilidade maior que o pênis ou a vagina. O beijo de língua explora totalmente a boca do parceiro, correndo a língua por dentro e por fora dos seus lábios, por cima e por baixo da língua dele, ou dela; Com os lábios colados, faça movimentos com a língua para dentro e para fora da boca do parceiro; é o beijo rítmico, que é muito mais excitante principalmente durante o ato sexual. 
                  Na hora do amor, a mulher tem os pensamentos dela voltados para seu parceiro; está sensual,  feliz e ávida por se oferecer por inteira. Ela permitiu que lhe provasse os lábios. Aproveite e tome conta do resto do seu corpo. Apalpe, acaricie e vasculhe todo o seu corpo para descobrir todas as suas regiões ocultas, cujo contato estimula a excitação e decuplica o prazer. Não tenha pressa, toque em cada milímetro de sua pele; faça-a perceber que tudo nela é bonito e bom. Ela conhecerá seu próprio poder de sedução. Mas lembre-se de nunca ir direto ao sexo; espere o momento certo quando ela estiver preparada. 
                   AS ORELHAS - Murmure-lhe palavras doces, sedutoras e loucas de amor. Mordisque-lhe o lóbulo e, com a língua, suba ao longo de toda a orelha até tocar suavemente seu orifício. Tome cuidado com os brincos para não feri-la. 
                   AS PÁLPEBRAS - É uma parte muito sensível, principalmente ao toque de uma língua. Beije com delicadeza e lamba-a suavemente. 
                   O PESCOÇO - A pele do pescoço é fina e muito suave. Roce-o com os lábios, beije suavemente cada centímetro. Vá para a nuca, repetindo todo o ritual e nunca tenha pressa. Mergulhe seus dedos nos cabelos enquanto seus lábios se ocupam dos toques mais sensuais. 
                    OS SEIOS  - É uma parte que merece todo o seu cuidado. Lembre-se daquele decote que o excita e mergulhe entre os dois pombinhos assustados que são possuidores do mais alto erotismo. Agora que lhe são oferecidos saiba cuidar  bem deles e proporcionar o máximo de prazer para ambos. O ponto mais sensível é o bico dos seios, mas tenha delicadeza para não ferí-los com apertões e mordidas exageradas. Tome cuidado para não parecer  um ginecologista examinando as mamas de uma paciente. Se objetivo é acariciar, excitar e dar prazer. 
                    AS AXILAS
                    Cuidado para não fazer cócegas. Algumas mulheres, pela própria sensibilidade, sentem cócegas e se esse por o caso, paciência; parta para outros lugares que o esperam. 
                    O UMBIGO - é uma parte muto linda e sensual da mulher; também muito sensível ao toque, principalmente da língua. 
                    BARRIGA - Muitas mulheres tem a mania de esconder esta belíssima e sensual parte do seu corpo; é um trauma criado pela mida que quer vender-lhes produtos cosméticos; elas tem muito medo de ter essa parte flácida. Na hora do amor a mulher está mais relaxada e receptiva, mas, mesmo assim, muitas se sentem constrangidas com esta parte do corpo. Cabe a você provar-lhe que está enganada e que ama cada centímetro dela. Uma boa solução é fazer amor sob iluminação bem suave que a fará mais confortável à entrega total. 
                   O INTERIOR DA COXAS - é uma região com pele fina, suave e acetinada. Toque-as com delicadeza; passe o rosto, as mãos, a boca, a língua e tudo mais que lhe parecer apropriado. Comece no ponto mais baixo e vá subindo, beijando e lambendo cada milímetro, até aproximar-se da grutinha do prazer. Sinta o perfume dessa parte do corpo que o deixa louco de tesão. 
                   A BUNDA - é a parte que mais atrai os brasileiros. Não se trata de desejo anal, mas de paixão por sua beleza. Deitada de bruços, sua parceira lhe oferece uma visão privilegiada do seu maravilhoso traseiro. Peque suas nádegas entre as mãos e beije, lamba e acaricia delicadamente cada parte. Lembre-se que você tem o privilégio de tocar cada centímetro desso monumento que faz os homens delirarem de desejo. Algumas mulheres gostam de suaves palmadinha; cabe a você descobrir o que ela está esperando.
                  O PERÍNEO - é o espaço que está entre a vagina e o anus; é um das  partes menos extensas e também mais sensíveis da mulher.  Um simples toque de dedo nesta região pode produzir fantásticos prazeres à sua parceira. Por incrível que pareça, é pouco conhecida e pouco explorada pelos homens. Toque-o com a língua  e leve sua parceira ao delírio. 
  

sexta-feira, 3 de maio de 2013

AMOR E BISSEXUALIDADE



        A finalidade do amor não é a procriação. Uma mulher pode ter muita tesão pelo marido e com ele chegar a múltiplos orgasmos, mas ao mesmo tempo ter um profundo sentimento de amor por uma amiga. O amor é algo muito especial e profundo, devendo sempre ser respeitado e compreendido.
          O fenômeno erótico é antecessor da sexualidade. Ele é fruto da origem da vida que teve sua primeira forma unicelular. A sexualização é apenas uma das formas de dualização da vida. A união sexual é uma das maneiras de compensar a dualidade e de reconstituir a unidade. Esta análise nos leva a perceber que o amor não se confunde com a sexualidade nem com o instinto de procriação.  A atração dos sexos opostos é apenas uma das modalidades de algo bem mais amplo, uma forma de se liberar de toda a diferenciação, particularização e fragmentação, para reconstituir uma indistinção perdida ao longo de bilhões de anos. 
           Freud em sua última definição do ato sexual disse: " Uma agressão que busca a união mais íntima". Ele já considerava a bissexualidade como algo natural do homem quando disse: "Habituo-me a considerar todo ato sexual como um acontecimento envolvendo quatro pessoas". Também Jung identifica no psiquismo humano uma tendência a reconstruir um estado de coexistência do masculino e do feminino. Ambos apontavam o tema da bissexualidade como algo de caráter científico. De forma que temos de pensar na bissexualidade pela perspectiva evolucionista. O homem se sente incompleto e busca no oposto sua forma original. Este é, portanto, um instinto físico e não amoroso. A sexualidade é separação e união,antagonismo e atração. Aí está todo o mistério da atração dos opostos. 
          Para compreendermos melhor a bissexualidade devemos, necessariamente, voltar às primeira fases da vida embrionária. O embrião conhece a princípio um estado de indiferenciação sexual com um único órgão que lembra o ovotéstis. Ao assumir o sexo masculino ou feminino, este órgão desenvolve a parte  central chamada medular ou sua zona periférica chamada cortical. A direção dada a esta diferenciação é feita sob controle dos hormônios. Durante todo o seu crescimento, o embrião desenvolve uns e não os outros, resultando nas formas sexuais masculina ou femininas. Entretanto, mesmo ao final de sua formação e definição sexual, ficam as atrofias dos órgãos do sexo sacrificado. Esta admirável metamorfose do aparelho genital pouco-a-pouco se sexualiza desenvolvendo no homem uma espécie de botão (pênis) e na mulher um orifício (vagina). Assim podemos dizer que a mulher é o prolongamento do homem e vice-versa. 
           A teoria dos hormônios dá uma base científica á hipótese de uma bissexualidade permanente, embora flutuante, da espécie humana. As secreções que asseguram a sexualização do embrião são as mesmas que determinam a do adulto.  Todo o indivíduo segrega ao mesmo tempo hormônios masculinos e femininos. O que se pode dizer é que os machos produzem mais andrógenos do que estrógenos, mas esta proporção está sujeita a variações. Além disso, a estrutura química dos hormônios é suscetível a mudanças. Mesmo no indivíduo adulto, os hormônios apresentam uma certa flutuação entre os sexos. É esta função reguladora dos hormônios que gera uma potencialidade sexual dupla e comprova, de maneira evidente, a bissexualidade do homem. Sabemos que os hormônios não apenas controlam o desenvolvimento e o comportamento fisiológico dos sexos, como também o comportamento psicológico. O psiquismo humano depende intimamente do equilíbrio hormonal. Uma simples injeção de hormônios femininos desenvolve glândulas mamárias e amor materno no homem. 
            Quando falamos da união entre homem e mulher nos vem logo a ideia de procriação, mas na maioria dos casos ela é evitada utilizando-se dos mais diversos meios contraceptivos hoje existentes. São incontáveis os casais que se unem sem o objetivo de fecundação. Seria um grave erro considerar estas uniões como desprovidas de sentido. Existem casos - excepcionais - em que elas significam uma verdadeira fecundação espiritual que, neste caso, substitui plenamente a outra. Para compreender  e interpretar essas uniões devemos recorrer ao esquema biológico, a partir do esquema celular. Os hormônios são uma prova de que a união se realiza em níveis diferentes. Esta escala comporta virtualidades infinitas que vão desde a simples fecundação ovular à fecundação do coração, da imaginação e das fantasias da mente. Do cego apetite sexual à consciência da união edificante pelo amor. 
             A descoberta dos hormônios justifica a interpretação do amor sexual. estas secreções sustentam a hipótese de uma continuidade entre o físico e o moral, mas também entre o corpo e a alma, a matéria e o espírito. 
             A representação do sexo como resultado de um simples conflito entre campos de força masculina e feminina é a mesma da bipolaridade que, de certa forma, consiste na dualização de nossa natureza. 
            O amor é um fenômeno da indução e do magnetismo. Tanto o sexo como o amor não perdem seu mistério pelo fato de o analisarmos sob os olhos da química e da biologia; ao contrário, nos leva a meditar sobre a verdadeira noção deste mistério. O tabu das religiões tradicionais está, aos poucos, sendo substituído pela ideia do mistério que pode ser aproximado. A evolução procede às custas de um certo romantismo e a ciência procura seguir o caminho mais exemplar para explicar o sexo e o amor, tendo consciência de que muito ainda é inexplicável.

O SACRIFÍCIO - Por Safo



                            
Vem, Athis, coroar de infantes rosas
Essa frente engraçada - e as tranças móveis
De teus áureos cabelos, deixa-as soltas
                  Pelo colo de neve.
Oh! que amável pudor te anima e córa!
Vem, colhe com teus dedos melindrosos
Frescas boninas, doces violetas
                   De suavíssimo aroma;
Que a vítima de flôres coroada,
Sempre é mais grata aos deuses. Vem: teremos
Estas selvas sisudas por altares,
                    Onde a minha ventura
Me há de elevar aos númes soberamos.
Enlaça em torno a mim essas grinaldas,
Reclina-te em meu seio, os olhos belos
                     Para os meus olhos volve...
Que linda córas! que formosos lábios!
Essa pálida têz não céde às flores:
Não, que a viveza de sua cor brolhante
                     O esplendor não te ofusca.